Mudanças climáticas terão efeitos irreversíveis, diz relatório
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Agência Brasil - Relatório publicado hoje (28)
pela Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que os impactos das mudanças
climáticas estão sendo “muito mais rápidos” do que o previsto pelos cientistas,
causando “perturbações perigosas e generalizadas na natureza”. De acordo com o
relatório do Painel Intergovernamental sobre Especialistas em Mudanças
Climáticas (IPCC), os esforços que estão sendo feitos no sentido de mitigar
esses efeitos não são suficientes. E, como consequência, há efeitos danosos
para a vida de bilhões de pessoas, em especial povos indígenas e comunidades
locais.
“Tenho visto muitos relatórios
científicos na minha vida, mas nada como isso”, disse o secretário-geral geral
da ONU, António Guterres, logo ao abrir seu discurso, durante a entrevistas
coletiva para divulgar o documento. “O relatório do IPCC apresentado hoje é um
atlas do sofrimento humano e uma indagação sobre danos e sobre o destino de
nossas lideranças climáticas. Fato a fato, esse relatório mostra que pessoas e
planeta estão afetados pelas mudanças climáticas”, disse.
“Neste momento, praticamente
metade da humanidade vive em zona perigosa. Neste momento, muitos ecossistemas
chegaram a um ponto sem retorno. E neste momento, o alcance descontrolado da
poluição corrente força uma vulnerabilidade global que está em marcha para a
destruição. Os fatos são inegáveis. Essa abdicação de nossas lideranças é
criminosa. Os grandes poluidores continuam sendo os culpados por prejudicar
nosso único lar”, acrescentou.
Segundo o presidente do IPCC,
Hoesung Lee, “este relatório traz um sério alerta sobre as consequências da
inação”, uma vez que mostra que as mudanças climáticas são uma “ameaça cada vez
mais séria ao nosso bem-estar e à saúde do planeta”.
Injustiça climática
De acordo com a diretora do
Programa Ambiental das Nações Unidas, Inger Andersen, a mensagem que o
relatório envia é clara: “mudanças climáticas já são nossos oponentes”. “As
chuvas estão aí, prejudicando bilhões de pessoas”, disse.
“Temos visto destruições
perigosas em todo o mundo natural. Espécies em migração vivem em condições mais
vulneráveis, e há mortes ocorrendo por inundações causadas por tempestades”,
disse ela, ao lembrar que, na última década, pessoas vulneráveis que vivem em
países de menor desenvolvimento têm 15 vezes mais chances de morrer em
decorrência de inundações, secas ou tempestades.
O risco, segundo a diretora da
ONU, atinge particularmente povos indígenas e comunidades locais. “O nome disso
é injustiça climática”, sentenciou, ao defender que o retorno à natureza é a
melhor forma de a humanidade se adaptar e diminuir as mudanças climáticas e, ao
mesmo tempo, promover empregos que potencializar economias.
“Temos a obrigação de dedicar
pensamentos e fundos para transformar e adaptar os programas tendo a natureza
em seu centro. A humanidade passou séculos tratando a natureza como seu pior
inimigo. A verdade é que a natureza pode ser nossa salvação, mas apenas se nós
a salvarmos primeiro”, completou.
O relatório destaca que, nas
próximas duas décadas, o planeta enfrentará vários perigos climáticos inevitáveis,
caso o aquecimento global chegue a 1,5°C. Alguns deles terão efeito
irreversível. Os riscos são cada vez maiores e terão consequências para
infraestruturas e para assentamentos costeiros de baixa altitude.
Financiamento, tecnologia e compromisso
O estudo alerta que, em algumas
regiões, o “desenvolvimento resiliente ao clima será impossível”, caso o
aquecimento global aumente mais de 2°C. Neste sentido, o levantamento destaca
“a urgência de implementar a ação climática, com foco particular na igualdade e
justiça”, o que implica em “financiamento adequado, transferência de
tecnologia, compromisso político e parcerias que aumentem a eficácia da
adaptação às mudanças climáticas e à redução de emissões”.
António Guterres lembrou que a
ciência tem reiterado que o mundo precisa cortar 45% de suas emissões até 2030,
para atingir zero emissão de gases até 2050. “No entanto, os atuais acordos
indicam que as emissões vão aumentar em quase 14% durante esta década. Isso representa
catástrofe, e vai destruir qualquer chance de mantermos vivos os compromissos”.
Ele acrescentou que os
combustíveis fósseis têm grande responsabilidade nesse cenário, e criticou os
países que têm descumprido acordos multilaterais sobre o tema. “A presente
combinação global sobre [emissões de] energia está quebrada, e os combustíveis
fosseis continuam causando danos, choques e crises econômicas, de segurança e
geopolíticas”, disse.
“Agora é tempo de acelerar a
transição energética para um futuro de energia renovável, porque combustível
fóssil representa impasse para nosso planeta, para a humanidade e, sim, para as
economias. A transição imediata para uma fonte renovável de energia é a único
caminho para garantir a segurança energética, o acesso universal e para os
empregos verdes que nosso mundo precisa”, acrescentou.
A adaptação, visando o uso
amplo de energia limpa, não é algo barata, ainda mais no caso de países menos
desenvolvidos. Tendo em vista essas dificuldades, Guterres convocou países desenvolvidos,
bancos multilaterais de desenvolvimento, financeiras privadas e outras
corporações a fazerem coalizões de forma a incentivar, desenvolver e dar
acessos ao uso de energia limpa.
O levantamento da ONU cita
relações diretas entre as mudanças climáticas e exposição de pessoas a
situações de insegurança alimentar e hídrica aguda, especialmente na África,
Ásia, América Central e do Sul, bem como em pequenas ilhas e no Ártico.
Atraso é morte
“Precisamos ajudar países a se
adaptarem às novas necessidades. Precisamos de dinheiro para salvar vidas,
porque atraso é morte. Todos bancos multilaterais sabem o que precisa ser
feito: trabalhar com governos para desenvolver caminhos para projetos visando a
obtenção dos recursos públicos e privados necessários. Todo planeta precisa
cumprir o acordado para conseguirmos, de fato, reduzir as emissões”,
argumentou.
Guterres acrescentou que o G20,
grupo formado pelas 20 maiores economias do planeta, precisa liderar esse
caminho. “Caso contrário, a humanidade pagará um preço alto, com um número
ainda maior de tragédias. Pessoas em todos lugares estão ansiosas e furiosas.
Eu também. Agora precisamos transformar essa fúria em ação. Toda voz pode fazer
diferença. E cada segundo conta”, concluiu.
Editores:
Wanderley Graeff e Karine Graeff (vivertoledo@gmail.com) – Ger. Adm.: Luciane
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