*Dom João Carlos
Seneme, css
O texto do Evangelho
de São João neste 5º Domingo da Páscoa (2/05) nos oferece uma bela imagem para
ilustrar a relação do discípulo com o Mestre-Jesus. A imagem da videira é um
muito presente na tradição do Antigo Testamento e nos lembra o relacionamento
de Deus com Israel, seu povo. A esta vinha se pertencia apenas pelo sangue. No
entanto, agora Jesus diz que Ele é a "verdadeira" videira e a ela se
pertence somente pela fé, independentemente de ser judeu, grego; ou seja, todos
têm a oportunidade de fazer parte da verdadeira videira.
O texto do evangelho
nos leva a Jerusalém, em uma noite de quinta-feira, um dia antes da festa da
Páscoa e da morte de Jesus. Jesus está reunido com os seus discípulos em volta
de uma mesa, numa ceia de despedida. Neste momento ele dá seu “testamento” aos
discípulos, indica o que deverão fazer para continuar sua missão. Sua
comunidade (=ramos) deve permanecer em profunda e íntima unidade com Jesus
(=videira) para que ela seja alicerçada no serviço e no amor. Deste modo, o
texto evangélico nos apresenta uma catequese de Jesus sobre a identidade e
missão da comunidade dos discípulos no mundo.
Jesus é a verdadeira
videira e nós somos os ramos. A nossa vida espiritual, nossa vida cristã e
nossa vida de discípulos, não pode ser entendida sem esta união com a pessoa de
Jesus, a videira verdadeira. A partir dele recebemos toda força, vitalidade e amor
para sermos fecundos.
O Evangelho insiste em que produzamos frutos e frutos que permaneçam e só conseguiremos isto se estivermos ligados e unidos à videira, é dela que provém a “seiva” vital. O distanciamento provocará sequidão, esterilidade e morte. Da mesma forma como a vitalidade de Jesus nasce da intimidade que ele tem com o Pai, também nós devemos estar ligados a Jesus para produzir fruto, para dar testemunho do seu amor e revelar ao mundo que existe um modo de viver único e permanente, mas que exige escolhas e renúncias. Todo discípulo é chamado a ser fecundo, produzir frutos bons, isto é, não amar somente com palavras, mas com obras verdadeiras.
O tempo pascal é
propício para revisar nossa vida de discípulos e discípulas à luz do Cristo
Ressuscitado. É um tempo de graça para olhar nossas práticas comunitárias, como
membros da Igreja e como pessoas. Para que os ramos produzam é necessário ser
cuidado com podas constantes, sem isso eles murcham e morrem. Como reagimos
diante das “purificações” que recebemos da vida? Quando nossa fé é questionada
e exige de nós posturas coerentes? Faz parte da ação de Deus “limpar” o “ramo”
a fim de que ele dê mais fruto. “Limpar” significa estar em um processo
contínuo de conversão que nos leve a recusar qualquer indício de egoísmo e
isolamento. É na comunidade cristã que encontramos força para continuar a
missão de Jesus, a Eucaristia sustenta nossa vida e testemunho.
*Dom João Carlos
Seneme, css
Bispo de Toledo
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